O reencontro com as cores, sons e memórias da minha infância no Pará, terra apaixonada pelo São João.
Texto e fotos por Melvin Quaresma
As minhas lembranças das festas de São João no Pará, onde nasci e vivi grande parte da infância, são carregadas de cores vibrantes e músicas que raramente vi ou ouvi nas festas juninas do sul do país, onde moro há quase duas décadas. Também estão em minhas memórias as roupas e danças das quadrilhas juninas, às quais assistíamos nas ruas, quadras, praças e todo lugar. Mais especificamente nas ruas do entorno da casa de minha avó materna, em Belém, acompanhávamos não apenas as apresentações, mas também os preparativos da quadrilha Rainha da Juventude, cuja sede é vizinha à casa de minha família. Toda a atmosfera dos tempos de São João me faz falta, e quando chega o mês de junho, me sinto distante de algo que faz parte de mim e da minha família. Depois de 16 anos morando no sul, voltei pela primeira vez à Belém num mês de junho, em 2016. E retornei pela segunda vez em 2019, para encontrar minhas lembranças novamente, fotografar e torcer pela Rainha nas competições de quadrilhas.
No reisado / Na ciranda
No imaginário popular,
Na vaquejada, na batucada / No alto do Bumba Meu Boi Bumbá
Morte e Vida Severina / Casa Grande e Senzala
Auto da Compadecida / Ariano Suassuna e João Cabral
São páginas, retratos dessa vida
João Grilo, Cancão de Fogo / Padre Ciço e Lampião
Banda Cabaçal / Novena e Renovação
Espinho e Fulô / Cante lá, que eu Canto cá
Patativa do Assaré / Cavalhada, Candomblé
A Nau Catarineta / Cantoria, Cavalhada
Fandango, Marujada / Forró e Arrasta-pé
É frevo, é Manguebeach / Maracatu e Pastoril
Luiz Gonzaga é folclore / É cultura do Brasil
É frevo, é manguebeach / Maracatu e Pastori
Luís da Câmara Cascudo / É cultura do Brasil
(Imaginário Popular - Alcymar Monteiro)
Em diversos municípios do Pará acontecem competições de quadrilhas do estado todo, que se apresentam para os jurados e público. Acompanhei duas dessas competições: a do Centur, na capital paraense, e as apresentações em Tracuateua, considerada uma “cidade junina” pela extrema importância da época para o município. No Centur, são 100 quadrilhas que participam do concurso, que dura 15 dias. Em Tracuateua, danças de 50 quadrilhas acontecem por dois dias, em festas que começam no fim da tarde e terminam no raiar do dia seguinte. Segundo dados fornecidos pela FEMUQ (Federação Municipal das Quadrilhas Juninas), são cerca de 40 quadrilhas juninas em Belém e 120 no Pará.
As apresentações duram, no mínimo, 15 minutos, e, no máximo, 20. Nesse tempo, os brincantes - como são chamados os dançarinos - dançam, cantam e sorriem, sempre sorriem. Sorrir vale ponto, mas também é escape para o extremo cansaço dos integrantes das quadrilhas. As roupas de mangas compridas, em adição ao calor das noites paraenses e aos movimentos incessantes durante todo o tempo de apresentação, tornam a dança um desafio ainda maior. Ao final das apresentações não é raro encontrar brincantes passando mal ou desmaiados. Pergunto à minha prima Carol, brincante da Rainha da Juventude, o que se passa na cabeça após a apresentação, quando o corpo padece.
"É um cansaço misturado com emoção, com o coração batendo a mil… Depois dá uma sensação de missão cumprida e vontade de dançar de novo, porque a gente dança com muito amor ali."
Carol Drago, brincante da Rainha da Juventude.
O candeeiro se apagou / O sanfoneiro cochilou
A sanfona não parou / E o forró continuou
Meu amor não vá simbora / Não vá simbora
Fique mais um bucadinho / Um bucadinho
Se você for seu nego chora / Seu nego chora
Vamos dançar mais um tiquinho / Mais um tiquinho
Quando eu entro numa farra / Num quero sair mais não
Vou inté quebrar a barra / E pegar o sol com a mão
(Forró no Escuro - Luiz Gonzaga)
Para saber mais sobre o trabalho de Melvin Quaresma
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